quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Você é dependente de elogios?

Descubra como se libertar desse vício e aprender a caminhar com suas próprias pernas

Quando terminou o namoro de mais de dois anos, a publicitária Mariana Resende Nogueira, 33 anos, ficou sem chão. Também pela solidão a que não estava acostumada e pela tristeza de ver desmanchar os planos que tinha com o ex. Mas principalmente por perder aquilo que mais adorava no rapaz: "Ele fazia eu me sentir linda", lembra. "Dizia o tempo todo que eu era incrível, elogiava meu jeito de vestir, falava que eu era demais na cama." Sem saber para onde ir, Mariana teve que voltar para a terapia. Algumas sessões e muito choro depois, percebeu que, independentemente do amor que acabara, o que ela gostaria de ter de volta era a bajulação do rapaz. Não há quem não goste de receber elogios. Eles são como vitaminas para a autoestima: fazem a gente se sentir mais forte e confirmam que estamos no caminho certo. O problema é quando se passa a depender deles para dar um passo. "Isso acontece quando a pessoa, sem autoconfiança, duvida de si mesma e da sua capacidade. Então, precisa que a aprovação venha de fora", explica a psicoterapeuta Cecília Zylberstajn, de São Paulo. "Para ela, o outro é como um espelho: é só através dele que a insegura se reconhece." Por isso é que, quando o "espelho" de Mariana parou de dizer que ela era tudo de bom, a moça ficou sem identidade. "Não queria sair de casa. Me achava feia, inadequada, pensava que ia falar a coisa errada na hora errada", conta.

Palmas para mim 
No caso da publicitária, foi uma fase que ela garante ter superado. O baque do rompimento derrubou a autoestima dela e, por um período, a fez duvidar de que seria capaz de amar e ser amada outra vez. "Pode acontecer também depois de uma demissão, uma decepção com um amigo ou outra experiência que abale um relacionamento ou uma situa-ção em que você apostava muito", explica a psicoterapeuta Poema Ribeiro, da clínica terapêutica São Francisco Xavier, em São Paulo.

Mas tem gente que é assim o tempo todo: se desdobra a fim de colecionar amostras da admiração alheia como uma forma de camuflar as próprias fraquezas. "Como, no fundo, a pessoa não acredita que merece o elogio, precisa que ele seja repetido o tempo todo. Funciona como uma droga mesmo, de que ela sempre precisa mais", fala Cecília Zylberstajn. Essa "caçadora de aplausos" costuma ser especialista em atraí-los. "Ela age de olho no reconhecimento que vai receber e de maneira a não dar brecha para críticas", descreve o psiquiatra e psicoterapeuta Eduardo Ferreira-Santos, de São Paulo. "Desse modo, evita se expor e ousar, porque prefere apostar naquilo que dá retorno certo a correr o risco de errar."

Caça aos louros 
Embora o comportamento seja muito nocivo ao crescimento pessoal e profissional, é bem provável que você já tenha cruzado com alguém assim no ambiente de trabalho. Como o colega que fecha a cara porque o chefe não faz festa quando ele atinge a meta de desempenho pela décima vez. Ou o outro, que fica mal quando não ganha parabéns por ter entregue no prazo o relatório impecável. Parece trivial, mas a coisa é séria. A competitividade e a obrigação de mostrar resultado deixam muita gente insegura e acabam afetando não só as relações de trabalho mas também o bolso. Uma pesquisa feita com estudantes universitários e publicada na revista americana Journal of Personality dá pista disso: revelou que a maioria dos jovens dá mais valor a receber um elogio ou cumprimento por ter se saído bem em uma prova do que sair com os amigos, fazer sexo ou ganhar um bom salário.

E quando a recompensa não vem? 
Desde criança a gente aprende que ganhar a aprovação do outro faz bem e motiva a continuar fazendo a coisa certa na escola, nos esportes, em casa. Isso porque, na fase de formação da personalidade, os pequenos acreditam ser aquilo que os pais dizem (o espelho, lembra?). Quando você cresce e cria seu próprio repertório de interesses, gostos e valores, o mais saudável é que deixe de depender desse empurrãozinho de fora para caminhar sozinha. Mas nem sempre é assim. Para quem se acostumou a viver à base de confete, a consequência quando ele não vem é frustração, ansiedade e tristeza. Sem falar no sentimento de revolta e agressividade, que pode colocar em você o rótulo de mimada ou arrogante.

Como em toda dependência, para se livrar dela é preciso primeiro admiti-la - o que é o grande desafio. Olhando para si mesma, em um esforço para se conhecer e descobrir aquilo que a faz feliz (assim como o que não quer para a sua vida), você chega lá e conquista autoconfiança. Isso, sim, é independência.

"Como a pessoa não acredita que merece o elogio, precisa que ele seja repetido o tempo todo. Funciona como uma droga." - Cecília Zylberstajn, psicoterapeuta de São Paulo

Proclame sua independênciaEsse comportamento é mais comum do que a gente imagina, mas nem sempre é fácil reconhecer que se é presa dele. Analise suas atitudes e saiba como agir para se libertar

• Se você... - Está sempre na expectativa da reação dos outros para o que faz ou fala e, por isso, deixa de agir com naturalidade.

Antídoto - Mude o foco para você, assumindo seu estilo, suas ideias e suas opiniões. Se parecer ousada demais, não tenha medo. Arriscar-se é uma atitude típica das pessoas autoconfiantes.

• Se você... - Vive se comparando com as outras mulheres.

Antídoto - Termine o dia recapitulando coisas que fez hoje e a deixaram orgulhosa de si mesma - pode ser uma gentileza, uma resposta inteligente para o chefe ou o seu penteado do dia. Você vai ver que há motivos de sobra para se admirar e ser admirada.

• Se você... - Tem dificuldade para falar "não".

Antídoto - Pratique essa palavrinha como uma forma de se colocar em primeiro lugar na sua vida e se recusar a fazer coisas que não quer. "Não se trata de egoísmo, mas de se conhecer e se respeitar", fala Cecília Zylberstajn.

• Se você... - Fica mal quando alguém faz um comentário atravessado sobre sua roupa.

Antídoto - Em primeiro lugar, veja de onde veio a opinião. "Antes de levar a sério, é importante avaliar quem falou e com qual intenção", diz Eduardo Ferreira-Santos. Ou seja, se for alguém que você não respeita, não admira ou que falou só para provocar, não tem por que esquentar a cabeça.

• Se você... - Nunca elogia ninguém.

Antídoto - Experimente fazer isso de vez em quando. Se é sincero, o elogio mostra que você sabe olhar para fora de si mesma e reconhecer o valor do próximo, sem medo da comparação ou da competição.

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